terça-feira, março 21, 2006

Bom humor, malícia e precisão


Desde bem pequeno eu já desconfiava que não tinha vindo ao mundo a passeio. Não que tenha sido geneticamente programado para ser desgracido, como bem disseram o Marcos Prado e o Sérgio Viralobos num célebre poema. Nada disso. É que as coisas teimam em acontecer. E quando as coisas acontecem, as coisas de verdade, as tais coisas da vida, elas não costumam mandar convite com hora, data e local. No meio do tiroteio, fui fazendo opções que, coincidência ou não, me afastavam de uma vida tranqüila e sem grandes problemas. Simplesmente não consigo fingir que não é comigo, mudar de calçada e seguir em frente. Arrumo para a cabecinha. Portanto, não posso reclamar. Confesso que procurei: sarna pra coçar, chifre em cavalo, cabelo em ovo - e, muitas vezes, achei. Fazer o que? Me ensinaram que a gente não aprende as coisas apenas para enfeite, mas para, na hora do vamos ver, ter coragem para encarar a massa ensandecida - com bom humor, malícia e precisão, é claro. Cheguei até aqui bem inteirinho, levando em conta o tamanho da desgrama. Talvez porque, de vez em sempre, eu lembro de coisas como este poema do mineiro Affonso Ávila:


quem obedece a sinalização evita acidentes

dentro da faixa
fora do perigo
dentro da fauna
fora do perigo
dentro da farsa
fora do perigo
dentro do falso
fora do perigo
dentro do fácil
fora do perigo

(Poema de Affonso Ávila, do livro Código Nacional de Trânsito)

3 comentários:

Roberto Prado disse...

Câmbio, mas não desligo. Que é sempre bom estar em boa companhia. Abraço pra tu também.

Anônimo disse...

Eu quase não comento, mas sempre passo aqui. Bj. Ligia

Roberto Prado disse...

Legal, Lígia, que você me visita. Sua passagem sempre deixa um perfume. Beijos.