quinta-feira, março 09, 2006

O fim do mundo vai acabar



sim e não

os problemas ficaram pequenos
penderam entre o sim e o não
quando tudo era mais ou menos


a dúvida nunca foi o meu cruel
há muito perdi a conta
de quantos quero ver no céu


certo, errado, cabeça tonta
viva quem coloca a bomba
e viva quem a desmonta


(Roberto Prado)

segunda-feira, março 06, 2006

Por um meio literário com menos chutes e pontapés


O brasileiro poderia ler mais, discutem os sábios, entre os pequenos e os grandes lábios, como bem disse o Leminski, falando de um outro assunto. Fora os blablablás de sempre (educação, preço, distribuição, etc. ad nausean) é preciso reconhecer que isso também é conseqüência da chatice reinante no próprio meio literário, onde cristalizou-se uma lenga lenga de afastar a mais curiosa das boas almas. Livros muito legais, interessantes, emocionantes, muito vivos, são dissecados, embrulhados e rotulados de maneira assustadoramente desagradável. Quem lê o setor de "resenhas" e "críticas" de revistas e jornais sai com a alma em farrapos. A leitura, que é um presente a nós mesmos, um agrado ao espírito, está sendo tratada como adereço externo. Que tal experimentar, de vez em quando, apresentar a literatura pelo que ele realmente é: aventura pelos caminhos do planeta, cheia de vida e emoção, sangrando e chorando de felicidade. Cada um tem sua maneira de se relacionar com o livro. E é isso que faz dele um cinema com algo à mais, individual, pois trata-se de um filme que você mesmo dirige, escolhe o elenco, sonoriza, corta, edita. Esses dias li no blog da Marilda Confortim (link ao lado) um poema que trata disso.


Bagagem literária?

Bobagem!
Nessa viagem
leve um coração
leve

e sobretudo um
olhar de veludo

(Marilda Confortim)

domingo, março 05, 2006

Pela preservação da genialidade humana

Às vezes imagino se não somos todos um pouco responsáveis pela preservação das pessoas e obras geniais que cruzam nosso caminho. Tanto quanto pelo ar, pela água, pelas plantas, pelos bichos. Por isso sinto-me um tanto incompetente - e, por extensão, a minha cidade - quando lembro que três patrimônios da humanidade conviveram entre nós e partiram um pouco cedo demais: Paulo Leminski, Marcos Prado e Jamil Snege. Abaixo, um texto do Jamil Snege, extraído do livro Senhor. Pequena amostra de um mestre do conto, do romance, da novela, da crônica, da poesia. Leia, espalhe e preserve. A atmosfera da nação agradece.


Já inspecionei a proa,
amarrei a carga,
desatei a vela.

O vento sopra forte e
enfuna meu coração
de alegria.

Agora é contigo, Senhor.

Toma o leme e risca
o rumo do meu barco - não
penses que irei por
este mar sozinho.

Jamil Snege (1939/2003)