segunda-feira, fevereiro 05, 2007

O sangue e o batuque


no batuque do coração


rimo rindo
rimo porque sim

rimo indo e vindo

quanto mais rimo melhor

rimo sim e daí?

vivo porque rimo

se rimo amanhã saberei

rimo sempre

rimo uma eternidade

rimo porque morri

confesso que rimei

rimo porque em verdade

em verdade eu sei

que mesmo naquele dia

se a rima me faltar

rimarei

tantã

por fora
por dentro e entre
pela vida afora
e antes
hora após hora
por exemplo, agora,
eu rimo sempre

dono de batuque nato
às vezes bato fraco

nenhuma razão para dor
nenhuma razão de orgulho
somente mais uma canção
apenas mais um coração
fazendo barulho

(Roberto Prado)

domingo, fevereiro 04, 2007

Cruz e Souza pede passagem


Amigos. Estamos hoje aqui reunidos para ler o Cruz e Souza. Sem mais rodeios, vamos ao poema.

Vida Obscura

Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro,
Ó ser humilde entre os humildes seres.
Embriagado, tonto dos prazeres,
O mundo para ti foi negro e duro.

Atravessaste no silêncio escuro
A vida presa a trágicos deveres
E chegaste ao saber de altos saberes
Tornando-se mais simples e mais puro.

Ninguém te viu o sentimento inquieto,
Magoado, oculto e aterrador, secreto,
Que o coração te apunhalou no mundo.

Mas eu, que sempre te segui os passos,
Sei que cruz infernal prendeu-te os braços
E o teu suspiro como foi profundo!

Cruz e Souza (1861 – 1898)