sexta-feira, setembro 15, 2006



autobiografia animal


1. deixando passar

o polvo
cansa menos
se me movo

2. cadela mia: errata
(Com Marcos Prado)

cadela vira gata
alquimia
vira lata

3. nobreza

existe algo
na rua o cão manco
vira galgo

4. o melhor amigo

rua vazia
a sarna do cachorro
única alegria

5. ontem?

passo de lesma
parece que foi ontem
era ontem mesmo

6. é isso aí, bicho

fome canina
força de touro
sapiência girina

quarta-feira, setembro 13, 2006

Um trecho do Apocalipse



Certa feita, eu e o Thadeu resolvemos fazer a tradução de um texto do João Evangelista, extraído do livro Apocalipse, para a página que naqueles tempos a gente editava na Gazeta do Povo. E fizemos. E publicamos. Veja como ficou.


Visões de Babilônia

E partiu, caiu, ruiu a grande Babilônia e se tornou morada de demônios e covil de toda espécie de espírito mau e destino de toda a corja de vampiros e esconderijo de toda ave imunda e detestável.

E os seus pecados se acumularam até o céu. Recebei agora, segundo as suas obras: o quanto a si mesma se glorificou e viveu em luxúria, colhei igual medida de tormento e dor e pânico e terror.

Choram os reis da terra, mas não a socorrem, de longe, covardes, sussurrando: “ai de ti, poderosa cidade, que chegou sua hora”.

E sobre ela lamentam os mercadores da terra, que por meio da sua prostituição enriqueceram, tremendo, fugindo, blasfemando: “ ai, grande Babilônia, compradora e vendedora de almas, vestida de linho finíssimo, de púrpura e escarlata, adornada de gemas delicadas e pérolas raras, num só golpe foi devastada.”

E todos que se venderam e que dela sugaram e nela viveram e que com ela lucraram na opulência, se afastarão, diante da queda colossal.

E a grande Babilônia do bom e do melhor nunca mais será achada. Nem ruína de espetáculo, nem memória de ciência, nem caco de indústria, nem algazarra de casais e filhos, nem nenhum pio de passarinho se ouvirá na Babilônia caída.

Porque os seus reis foram algozes e seus vendilhões dominaram a terra e todas as nações foram profanadas pelas suas armas e seduzidas pelo seu ouro e desencaminhadas pela sua boca e pervertidas pela sua feitiçaria.

Porque o chão de Babilônia bebeu o sangue dos santos, dos profetas, dos justos, dos simples e dos puros e seu poder embriagado é cúmplice de todos os assassinatos da Terra.

Adeus, Babilônia, adeus. Aleluia, Babilônia, aleluia. Só a fumaça diz o que você foi. E só ela te chora e só ela te eleva, Babilônia, pelos séculos dos séculos, agora.

(Texto de João Evangelista, do livro Apocalipse. Tradução de Roberto Prado e Antonio Thadeu Wojciechowski)