sexta-feira, junho 09, 2006

Deu caroço de porco na cabeça


Trecho de um texto meu publicado na
revista Idéias número 47. Começa assim. E por aí vai.

Os cínicos, os suicidas e o caroço de porco no cérebro.

Até bem pouco tempo a gente sofria com gosto, pois o Brasil era o país do futuro. Éramos maltratados, até mais do que hoje, mas a desgraceira tinha um significado maior, que justificava todo sacrifício: logo logo, assim que entrasse uma graninha, isso aqui ia virar um Canadá sem gelo, um EUA sem caretice, um Japão sem disciplina marcial, uma Europa sem mofo, uma Austrália sem tubarões.

Bastava à nossa população – composta por gente amiga, criativa, cordial, bem humorada e cheia de amor para dar – esperar, sentada, o advento do grande porvir, pois o destino, glorioso, já estava traçado. Movidos por essa certeza absoluta, defendíamos nosso modelo tropical de civilização com fé cega, digna de homens-bomba, dispostos a morrer antes de ver a pátria invadida pelos batalhões da razão, do bom senso e da inteligência.

(Roberto Prado)