sábado, fevereiro 17, 2007

Dureza: um abraço pro gaiteiro


Divido com vocês uma maravilha roubada do blog Malocabilly (link ao lado), por obra e graça do grande Sérgio Viralobos. São coisas assim que me sustentam entre as colunas de trevas que evolam do incêndio de Babilônia.

MARRÉ DE SI

tempo é dinheiro
mas dinheiro foi-se o tempo
quase que perco tudo
à procura da agulha no palheiro

o quase acabou ficando
na fronha de algum travesseiro
o corpo fica mais puro
sem um puto no bolso

a consciência, mais leve
quando se falta o tanto
hoje sou mais valioso
que um dicionário de esperanto

ando de cabeça erguida
se pisar em moeda, eu passo
meu testamento são folhas em branco
só o gaiteiro me espera pro abraço.

(Sérgio Viralobos)

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Uma flor do mal do velho Bode

Charles Baudelaire, o autor das Flores do Mal, era do bem. Para comprovar, veja uma das duas traduções que eu e meus parceiros fizemos, já publicada no livro Os catalépticos e que inspirou um belíssimo e corajoso estudo do professor Édison Costa (na revista Letras, da UFPR) comparando as nossas versões do velho Bode com as dos poetas simbolistas.

O VINHO DOS AMANTES

indo belo lindo um dia todo sim
é proibido proibir que tenha fim

bebo o vinho mel, divino néctar,

o céu ainda por cima parece concordar

um par de arcanjos, que figuras!
ambos puros artífices das alturas
eu e a taça, vinhetas da paisagem
o vinho volta à uva, eu, à miragem

no embalo dos tragos a terra gira
mecanismos de um turbilhão inteligente
que tudo ouve vê e só delira

o paraíso já era aqui e paralelamente
em outro entramos agora como um só

ic! epa! ops! rum...rum...ã? ó!


(Charles Baudelaire – versão brasileira de Roberto Prado, Marcos Prado e Antônio Thadeu Wojciechowski)

terça-feira, fevereiro 13, 2007

linha morta, rima posta

apuro indícios após o crime
faca não, nenhum revólver
denuncio a mim, juro que vi-me
bem mal o enigma se resolve

volta ao local a alma mordoma
quem cometeu nada o detinha
digital zero, testemunha em coma
o fim da linha não foi a rima

(Roberto Prado)