sexta-feira, outubro 13, 2006

E o tempo não passa, torcida brasileira.


A CPI havia perdido a graça. A poeira baixou e, junto dela, nós também retomamos aos poucos o contato com a insuportável crosta terrestre.

Mas, quando o vazio da alma já ameaçava entrar em colapso e se tornar um buraco negro, eis que veio a salvação: a Copa. A Copa, claro, a Copa, como é que a gente pode esquecer uma coisa dessas? Só a expectativa já nos ergueu sete palmos acima do chão.

De repente, lá estávamos nós, inflados de gases nobres, leves criaturas aladas, livres da praga bíblica que nos condenou a cavocar a terra. Infelizmente, até a própria Copa do Mundo um dia tem fim. O indulto de futebol acabou, a lei da gravidade voltou a vigorar, vestimos a velha camisa listrada e saímos por aí, com bola de ferro no pé e picareta na mão.

As promessas do Pan, assim como desgraça pouca, não nos comovia. A máquina do tempo, emperrada, fez com que as semanas passassem a se arrastar penosamente, desembocando em segundas-feiras com o peso de muitos janeiros.

O resto você já sabe: para nossa sorte, era ano de eleição. O sol retomou seu ritmo, a vida se reconstruiu, cheia de fé, à espera das pesquisas, das denúncias, das anedotas, dos santinhos e, acima de tudo, dos debates, meu Deus, os benditos debates. Até a chuva parou, para não atrapalhar com aquele barulho irritante de água caindo pelas calhas. Agora, com licença, somos amigos, você é muito boa gente, mas, fique quieto, silêncio, nem mais um pio:

- Quer fazer o favor de calar essa boca, que eu estou tentando ouvir o horário eleitoral?


uma letra

puxe um silêncio do estoque
e deixe a letra bater
chame um batuque exato
para o silêncio dançar

puxe
chame
dance
e deixe

evoque que vem
no espírito da letra
todas as letras

que o silêncio tem