sexta-feira, maio 26, 2006

Dois poemas de morte

é preciso que se morra
mas que se morra aos poucos
devagar
dentro do horário
com cautela
sem onerar o erário
é preciso morrer
na disciplina protocolar
parar de respirar
sem nenhum comentário
morrer
é muito particular

(Luiz Antônio Solda)


eu morro

as cordas do meu cavaquinho me disseram
que um pandeiro havia me deixado na mão
sinto saudades do corpo do meu violão
samba, bata em mim, não pare agora
sou um apito que ri
e uma cuíca que chora
nesta cozinha que hoje é um salão

(Marcos Prado e Edson de Vulcanis)

segunda-feira, maio 22, 2006


Os egípcios usavam o mesmo hieróglifo para epilepsia, possessão demoníaca e inspiração divina.



linha morta, rima posta

apuro indícios após o crime
navalha não, nenhum revólver
denuncio a mim, juro que vi-me
bem mal o enigma se resolve

volta ao local a alma mordoma
quem cometeu nada o detinha
digital zero, testemunha em coma
o fim da linha não foi a rima

(Roberto Prado)