sexta-feira, julho 29, 2011

Emílio de Meneses: gatilho rápido e certeiro.


Oliveira Lima


(Emílio de Meneses)


De carne mole e pele bambalhona,

ante a própria figura se extasia.

Como oliveira - ele não dá azeitona,

sendo lima - parece melancia.


Atravancando a porta que ambiciona,

não deixa entrar, nem entra. É uma mania!

Dão-lhe, por isso, a alcunha brincalhona

de pára-vento da diplomacia.


Não existe exemplar, na atualidade,

de corpo tal e de ambição tamanha,

nem para intriga igual habilidade.


Eis, em resumo, essa figura estranha:

tem mil léguas quadradas de vaidade

por milímetro cúbico de banha.

E para ver um clipe do poema feito pela TV e-paraná, na voz do Carlos Daitschman, clique AQUI.

quinta-feira, março 03, 2011

Para comentar o rolo da É Paraná, cai bem este poema do Marcos Prado.

todo dia encontro um artista novo
eu escrevo, eu pinto, eu desenho, eu canto
mas todos têm aquela cara de ovo
trato-os humildemente mas com espanto
isso não está escrito na cara deles
não vejo em nenhum o ar de sua graça
nem o trato nobre ou o ímpeto reles
raro o dono da própria desgraça

tenho por eles, porém, um amor triste
um amorzinho vagabundo, menos que inho
que de tão diáfano não sei como resiste
um dia pego um deles pelo colarinho
estrangulo no balcão aos gritos: despiste
não fique roxo, não obre, isso é um carinho

(Marcos Prado)

terça-feira, fevereiro 15, 2011

Zen e a arte de fazer televisão

A roda do destino gira, embaralha, mistura e, regendo esta misteriosa engrenagem, acaba dispondo pessoas, fatos e coisas com uma espantosa perfeição. Agora, por exemplo, o mecanismo acertou em cheio ao trazer o Paulo Vítola ao comando da Rádio e Televisão Educativa do Paraná - RTVE para os íntimos. Pois era justamente a arte zen do Paulo Vítola que a emissora estava precisando. Paciência, precisão e talento na dose certa para o grau de dificuldade da missão. E que Santa Clara nos clareie!



Santa Clara, Padroeira da Televisão


Santa Clara, padroeira da televisão
Que o menino de olho esperto saiba ver tudo
Entender certo o sinal certo se perto do encoberto
Falar certo desse perto e do distante porto aberto
Mas calar
Saber lançar-se num claro instante


Santa Clara, padroeira da televisão
Que a televisão não seja o inferno, interno ermo
Um ver no excesso o eterno quase nada (quase nada)
Que a televisão não seja sempre vista
Como a montra condenada, a fenestra sinistra
Mas tomada pelo que ela é
De poesia


Quando a tarde cai onde o meu pai
Me fez e me criou
Ninguém vai saber que cor me dói
E foi e aqui ficou
Santa Clara


Saber calar, saber conduzir a oração
Possa o vídeo ser a cobra de outro éden
Porque a queda é uma conquista
E as miríades de imagens suicídio
Possa o vídeo ser o lago onde narciso
Seja um deus que saberá também
Ressuscitar


Possa o mundo ser como aquela ialorixá
A ialorixá que reconhece o orixá no anúncio
Puxa o canto pra o orixá que vê no anúncio
No caubói, no samurai, no moço nu, na moça nua
No animal, na cor, na pedra, vê na lua, vê na lua
Tantos níveis de sinais que lê
E segue inteira


Lua clara, trilha, sina
Brilha, ensina-me a te ver
Lua, lua, continua em mim
Luar, no ar, na tv
São Francisco


(Caetano Veloso)