segunda-feira, março 06, 2006

Por um meio literário com menos chutes e pontapés


O brasileiro poderia ler mais, discutem os sábios, entre os pequenos e os grandes lábios, como bem disse o Leminski, falando de um outro assunto. Fora os blablablás de sempre (educação, preço, distribuição, etc. ad nausean) é preciso reconhecer que isso também é conseqüência da chatice reinante no próprio meio literário, onde cristalizou-se uma lenga lenga de afastar a mais curiosa das boas almas. Livros muito legais, interessantes, emocionantes, muito vivos, são dissecados, embrulhados e rotulados de maneira assustadoramente desagradável. Quem lê o setor de "resenhas" e "críticas" de revistas e jornais sai com a alma em farrapos. A leitura, que é um presente a nós mesmos, um agrado ao espírito, está sendo tratada como adereço externo. Que tal experimentar, de vez em quando, apresentar a literatura pelo que ele realmente é: aventura pelos caminhos do planeta, cheia de vida e emoção, sangrando e chorando de felicidade. Cada um tem sua maneira de se relacionar com o livro. E é isso que faz dele um cinema com algo à mais, individual, pois trata-se de um filme que você mesmo dirige, escolhe o elenco, sonoriza, corta, edita. Esses dias li no blog da Marilda Confortim (link ao lado) um poema que trata disso.


Bagagem literária?

Bobagem!
Nessa viagem
leve um coração
leve

e sobretudo um
olhar de veludo

(Marilda Confortim)

6 comentários:

polacodabarreirinha disse...

No ângulo, Beco. Preciosíssima a tua colocação, alguém precisa avisar esses caras que o inferno fica lá onde o Dante colocou. Trazê-lo à tona, só pelo prazer de nos torturar, é demais pras nossas cabecinhas. O poema da Marilda vale mais.

Abração

Thadeu

Roberto Prado disse...

O segredo do verdadeiro inferno é esse: sintonia. A mente dos caras já está vibrando lá, onde o capeta encosta o cisco. O corpo só faz acompanhar. Eu sintonizei no dial da Marilda que é muito mais jogo. É ou não é?

Anônimo disse...

critiquez

meça o tamanho dessa conversa
que mesmo quando cessa atravessa
e deixa o coração vazio

a alma simples e gentil
em tempo algum tergiversa
nem grita pelo cotovelos que sentiu
o que nunca viveu ou viu

mas o algoz do poeta não perdoa
e como sua caneta sub-reptícia
cochicha e todo seu rabo espicha

Henriquesgoto

Marilda Confortin disse...

É isso, Roberto! Na veia. Talvez seja um dos motivos por que muitos escritores e leitores se enveredaram pelo caminho da Net: Pela liberdade de ler e escrever por puro prazer, por tesão e não sob as rédeas estreitas de um punhado de críticos que massacra, machuca, disseca, empacota, rotula e distribui seu próprio gosto, para o desgosto dos escritores e a contragosto da maioria dos leitores. To contigo!

Roberto Prado disse...

E o pior, Marilda, é ver que tem escritor que incorpora o algoz e consegue se referir à literatura de uma forma ainda pior que eles (algoz, boa essa, bela palavra, Henrique). E obrigado pelo empréstimo do poema.

Deve ser por isso, Henrique, que o Dalton Trevisan sempre recusou aparecer e explicar-se. Grande abraço.

Anônimo disse...

deve estar havendo algum equívoco. eu moro no inferno, e aqui não tem nenhum crítico literário, nem nada disso, se houvesse eu já teria colocado as coisas no meu fusca e me mudado. talvez tenham vindo de brasília.

lúcifer.