A CPI havia perdido a graça. A poeira baixou e, junto dela, nós também retomamos aos poucos o contato com a insuportável crosta terrestre.
Mas, quando o vazio da alma já ameaçava entrar em colapso e se tornar um buraco negro, eis que veio a salvação: a Copa. A Copa, claro, a Copa, como é que a gente pode esquecer uma coisa dessas? Só a expectativa já nos ergueu sete palmos acima do chão.
De repente, lá estávamos nós, inflados de gases nobres, leves criaturas aladas, livres da praga bíblica que nos condenou a cavocar a terra. Infelizmente, até a própria Copa do Mundo um dia tem fim. O indulto de futebol acabou, a lei da gravidade voltou a vigorar, vestimos a velha camisa listrada e saímos por aí, com bola de ferro no pé e picareta na mão.
As promessas do Pan, assim como desgraça pouca, não nos comovia. A máquina do tempo, emperrada, fez com que as semanas passassem a se arrastar penosamente, desembocando em segundas-feiras com o peso de muitos janeiros.
O resto você já sabe: para nossa sorte, era ano de eleição. O sol retomou seu ritmo, a vida se reconstruiu, cheia de fé, à espera das pesquisas, das denúncias, das anedotas, dos santinhos e, acima de tudo, dos debates, meu Deus, os benditos debates. Até a chuva parou, para não atrapalhar com aquele barulho irritante de água caindo pelas calhas. Agora, com licença, somos amigos, você é muito boa gente, mas, fique quieto, silêncio, nem mais um pio:
- Quer fazer o favor de calar essa boca, que eu estou tentando ouvir o horário eleitoral?
uma letra
puxe um silêncio do estoque
e deixe a letra bater
chame um batuque exato
para o silêncio dançar
puxe
chame
dance
e deixe
evoque que vem
no espírito da letra
todas as letras
que o silêncio tem
2 comentários:
Talvez seja a ampulheta que pariu!
(Falando em tempo, faz muito que
não deixo um abraço aqui.
Tá deixado, Roberto.)
E no final coisa tão séria parece piada né Roberto? Abraço...
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